Personagens recorrem à inseminação artificial e geram polêmica em 'Fina estampa' e 'A vida da gente'
Plantão | Publicada em 30/10/2011 às 09h40m
Zean Bravo (zean.bravo@oglobo.com.br)
RIO - Uma já passou dos 40 e tomou uma difícil decisão para não adiar mais a maternidade: vai carregar em sua barriga um bebê gerado com óvulo de outra mulher. Nem que isso force a sua separação. Já a outra, mais jovem, casou com um homem vasectomizado e será inseminada com o sêmen do cunhado. Apesar de distintas, as tramas de Esther (Julia Lemmertz) e Cris (Regiane Alves) - no ar respectivamente em "Fina estampa" e "A vida da gente" - passam por um mesmo cenário: o consultório médico.
Autor da novela das 21h, Aguinaldo Silva está munido de pesquisa - sua equipe ouviu especialistas em fertilização in vitro e mulheres que passaram por esse processo - para escrever o drama de Esther. A trama foi inspirada no caso de Lilia Seldin, sócia do novelista numa pousada na região serrana do Rio. Ela decidiu engravidar de um doador de sêmen anônimo depois de dois casamentos com homens que não queriam filhos. O ponto de partida, conta Aguinaldo, foi a realidade. Mas a história - e principalmente seus desdobramentos - é fruto da ficção. Ao contrário da vida real, a personagem não terá seu próprio óvulo fecundado (usará o de uma doadora).
- Há várias discussões. A primeira é que, graças ao progresso da ciência, a mulher tem condições de "gestar" ou hospedar um bebê mesmo depois da menopausa. A segunda é que ela pode dispensar a participação direta do homem, pois recebe o óvulo já fecundado. Outra discussão é: a criança "gestada", mas não gerada, é ou não da mulher que a hospedou? Ela não tem o seu DNA, mas durante nove meses foi alimentada por ela - questiona Aguinaldo.
Na ficção, Esther encontra apoio na figura da médica Danielle Fraser (Renata Sorrah), especialista em fertilidade dirigida. Já o marido da estilista, Paulo (Dan Stulbach), não pode e nem quer ter filhos. E morre de ciúmes desse novo ser, chamado por ele de "filho de ninguém".
- Eles vão se separar e se envolver com outras pessoas, como é necessário que aconteça nas novelas. Mas eu não consigo imaginar os dois separados no final da história - adianta o autor.
Para Julia Lemmertz, o assunto é polêmico justamente por fazer parte da vida atual e falar de família de um jeito diferente. Em sua pesquisa para o papel, a atriz marcou uma longa consulta com o seu ginecologista, Marcio Coslovsky, especialista em reprodução humana.
- O assunto gera uma discussão imensa. Tem gente que compreende e gente que acha um absurdo, como o Paulo. Procuro não julgar - diz Julia.
Mãe de Luiza, 23 anos, e Miguel, 11, a atriz entende a vontade de Esther em vivenciar fisicamente a maternidade:
- Ela poderia adotar, mas quer ver a própria barriga crescendo. Os meus dois filhos foram concebidos de forma natural e nasceram de parto normal. Para mim, o sentido da vida se completa quando você é mãe e pode gerar seu filho. Eu nem preciso escrever um livro ou plantar uma árvore para me sentir realizada.
Assim como Aguinaldo, Lícia Manzo, autora de "A vida da gente", conta com uma equipe de pesquisadores e consultores médicos para orientar as cenas com termos técnicos. Mais do que falar sobre banco de sêmen ou fertilização in vitro, o foco da novelista é tratar das famílias da atualidade.
- O escopo da novela é a transformação que elas vêm sofrendo. Acredito que onde falta a tradição, é justamente o afeto que irá legitimar os laços. A partir daí, construí uma crônica das relações atuais - conta Lícia.
Sem aceitar que Cris use um banco de sêmen para engravidar, Jonas (Paulo Betti) pagará o próprio irmão, Lourenço (Leonardo Medeiros), para ser o doador.
- É um assunto delicado. Muitas vezes penso o quanto seria difícil passar por todo este processo, o quanto é estranho e desconfortável esta situação de usar o cunhado. Já conheci um casal de irmãos em que a irmã gerou o filho para o irmão porque a cunhada não podia gerar. Fiquei boquiaberta e ao mesmo tempo admirada com esse tipo de amor - relata Regiane.
Para a autora de "A vida da gente", a semelhança entre a sua trama e a das 21h "apenas comprova a atualidade do tema em pauta". Ela diz que o assunto está cada vez mais presente e que, por ser algo relativamente novo e pouco conhecido, é natural que seja discutido. Já Aguinaldo acha que as coincidências poderiam ser evitadas.
- A prioridade na abordagem do tema deveria ser para quem apresentou a sinopse primeiro. Eu fiz isso em junho de 2009. De qualquer modo, tenho certeza de que o tratamento dado por cada autor ao tema será bem diferente - conclui.
eu nao de chava eles faze isso
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